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APRESENTAÇÃO ORAL DE TRABALHOS CIENTÍFICOS

Após a redação do artigo científico, vocês deverão submetê-lo à apreciação da Banca de Avaliação. Sendo assim, é interessante que vocês atentem para alguns aspectos relacionados à apresentação oral de trabalhos científicos que serão de grande valia, não só naquele momento, mas também quando tiverem a oportunidade de apresentar seus trabalhos oralmente em algum evento científico.

COMUNICAÇÃO VERBAL: A ORALIDADE

A comunicação oral é realizada em razão de diversos propósitos e depende de uma linguagem adequada e significativa que facilite a compreensão entre as pessoas. Para haver comunicação, não existe necessidade de emprego de palavras difíceis.

Entretanto, tratando-se de uma apresentação oral formal, é necessário um certo cuidado com a linguagem e expressar-se, com lógica e de maneira organizada, considerando características de contexto que envolvem aspectos relativos aos interlocutores e ao espaço destinado à apresentação.

Em se tratando de apresentação de trabalhos científicos, a platéia geralmente é composta por pessoas interessadas, de alguma forma, em ciência. Nesse caso, a linguagem utilizada durante a exposição de temas deve ser foco de preocupação, tendo em vista que, em eventos científicos, é requerido o uso do dialeto padrão e de expressões técnicas, sob pena de o conteúdo perder força, em razão do preconceito lingüístico.

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL

O processo de comunicação oral não se efetiva somente pelo entendimento das expressões orais utilizadas. Ele é auxiliado pelo envolvimento entre elas e a expressão fisionômica, a postura e o olhar. A atenção aos elementos paralingüísticos, como a voz e a dicção, também pode favorecer um comunicador. Conhecer essas questões pode ser útil para evitar que vocês assumam o papel de alguns tipos de palestrantes.

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A expressão facial mais importante é o sorriso, porque é contagiante. Pode, portanto, ser utilizado para criar sintonia. Entretanto, sorrisos inapropriados podem prejudicar a imagem. Jimmy Carter, ex-presidente norte-americano, acabava cada frase de seus discursos com um sorriso. Sorria, mesmo quando falava de assuntos que exigiam muita seriedade. Em casos como esse, o sorriso ou coloca em dúvida o teor do discurso ou, no mínimo, desconcerta a platéia pela discrepância produzida entre o conteúdo e a expressão fisionômica do comunicador (KUSHNER, 2000).

As expressões fisionômicas são capazes de traduzir mensagens, tornando desnecessário explicitá-las. A incredulidade quanto a uma estatística que se acabou de mencionar pode ser evidenciada por um levantar de sobrancelha; a discordância quanto a um determinado assunto pode ser manifestada por uma testa franzida, por exemplo.

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A postura do corpo, entendida como meio de expressão não-verbal, é traduzida pelo movimento do corpo. Durante uma comunicação, a postura corporal pode destacar ou desmerecer um conteúdo expresso verbalmente.

Portanto, é importante desenvolver a percepção dos próprios movimentos. Deve-se andar com as costas retas durante uma apresentação, pois uma postura relaxada convida a julgamentos negativos pela platéia. Ao contrário, uma boa postura leva a julgamentos positivos.

Uma boa postura é manter as pernas levemente afastadas e as mãos em posição de campanário (a parte aberta da torre da igreja onde estão os sinos). A partir dessa posição, os gestos fluirão naturalmente.

Vejam algumas dicas sobre posturas que não devem ser adotadas durante uma apresentação.

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Kushner (2000, p. 250) listou alguns aspectos importantes sobre a postura durante uma apresentação:

  • Incline-se levemente em direção a quem lhe dirige uma pergunta. Isso mostra engajamento com o público. Inclinar-se para trás, indica o contrário.
  • Não se debruce sobre o púlpito. Isso sinaliza fraqueza e insegurança.
  • Não coloque as mãos nos quadris. Parecerá alguém que quer mostrar-se o líder, o dono da verdade.
  • Não oscile para frente e para trás, nem fique passeando pelo palco Esses movimentos desviam a atenção do público de seu discurso.
  • Não cruze os braços no tórax ou coloque os braços para trás. Isso denota insegurança.
  • Não fique parado na posição “folha de parreira” (ambas as mãos juntas sobre o sexo), como se você estivesse “nu” de idéias, não soubesse o que dizer ou que não tivesse algo inteligente para dizer e quisesse esconder isso do público.
  • Não esconda suas mãos nos bolsos. Não há problema em colocá-las no bolso de vez em quando, mas não as plante ali, caso contrário, estará passando a idéia de insegurança.

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    O contato visual é muito importante para avaliar o interesse/desinteresse da platéia ou o entendimento do discurso por ela. É um recurso que permite alterar o caminho traçado para apresentação, a partir de reformulações, exemplos e modificar o tipo de abordagem do assunto para retomar a atenção dos expectadores.

    O olhar é parte ativa na comunicação e, durante uma apresentação, deverá envolver, igualmente, todos os presentes. No primeiro momento, deve-se estabelecer o contato visual com o grande grupo e, aos poucos, dirigir o olhar a pequenos grupos, de maneira a abarcar a totalidade da platéia, incluindo as pessoas que estiverem localizadas no fundo. Caso contrário, elas irão sentir-se excluídas. Com a utilização dessa técnica, a platéia fica mais atenta. Observem algumas dicas sobre o contato visual.

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    Kushner (2000, p. 264) listou alguns aspectos importantes sobre o contato visual, durante uma apresentação:

  • Não olhe muito tempo uma só pessoa. Isso provoca desconforto.
  • Não olhe pela janela. O resto das pessoas faz o mesmo. O mesmo acontece quando olhar para o teto, para as paredes, para o piso ou para um único ponto. A platéia acompanha seu olhar como se você fosse o líder. Olhe para elas e elas olharão para você.
  • Não deixe que as anotações arruínem seu contato visual: Tenha à mão anotações fáceis de ler (letras grandes, apenas algumas palavras-chave por ficha), de forma a não perder o contato visual com a platéia por muito tempo.
  • Não olhe sobre as cabeças das pessoas: Se você estiver nervoso demais para olhá-las nos olhos, olhe para aponta do nariz, pois elas não poderão saber que você não as está olhando nos olhos.

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    Entre os elementos paralingüísticos, encontram-se a dicção e a voz. Pronunciar corretamente as palavras evita interpretações equivocadas e constrangimentos. Além disso, o tom e volume de voz adequados despertam a atenção dos ouvintes. Por outro lado, um tom monocórdio, sem ênfases, muito alto ou rápido demais produz efeito contrário.

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    Segundo Kushner (2000, p. 253), a postura e os gestos adotados pelos palestrantes podem, em muitos casos, arruinar um discurso. Portanto, evitem assumir os “tipos” descritos abaixo.

  • O banqueiro: chacoalham moedas nos bolsos, parecendo uma máquina de dar troco;
  • O ótico: ajustam constantemente os óculos;
  • O alfaiate: remexem nas próprias roupas.
  • O joalheiro: mexem em suas jóias. Colares são sua grande atração. Você pode encontrar giradores de anéis em ambos os sexos.
  • O amante solitário: abraçam seus próprios corpos. É realmente esquisito.
  • O pedinte: unem as mãos e as lançam na direção da platéia como se estivessem pedindo alguma coisa.
  • O higienista: friccionam as mãos o tempo todo, como se as lavassem.
  • O fabricante de brinquedos: adoram brincar com qualquer objeto - canetas, marcadores, clipes – qualquer coisa que esteja à mão.
  • O catador de insetos: puxam pêlos, são acometidos por coceiras. A platéia sabe que é um hábito nervoso, mas fica imaginando quando foi a última vez que o palestrante lavou a cabeça.

    Acrescento a essa lista o “apertado”: em pé, cruza as pernas e assim permanece durante toda a palestra, como se estivesse com muita vontade de ir ao banheiro.

  • Isso significa que vocês também são recursos visuais que, como quaisquer outros, podem vir em auxílio ou em prejuízo de uma apresentação oral. A adoção de certos gestos e expressões faciais ou a ausência deles durante uma explanação pode levar à perda de credibilidade.

    Assim, para que a expressão verbal se realize com maior eficiência, é necessário que as duas linguagens, verbal e não verbal, estabeleçam uma harmonia entre si e se completem no ato de comunicação. Em um debate, durante a campanha presidencial, nos Estados Unidos, George Bush olhava constantemente para o relógio, enquanto falava sobre questões importantes para o povo americano. Esse gesto denotou que havia algo mais importante do que estar ali, que ele mal podia esperar pelo fim do debate. Isso prejudicou sua credibilidade. A linguagem não verbal é mais contundente quando as duas linguagens entram em conflito (KUSHNER, 2000).

    RECURSOS AUDIOVISUAIS

    Os recursos audiovisuais podem ser muito valiosos para o sucesso de uma apresentação, mas devem ser utilizados de maneira apropriada. Um dos mais utilizados em eventos científicos é o projetor multimídia. Alguns cuidados devem ser tomados para que sua utilização seja proveitosa:

    Elaboração de lâminas

    1. Não utilizem mais de seis linhas por slide. Um slide “poluído” dificulta a assimilação do assunto;
    2. Utilizem fonte tamanho 22 ou maior.
    3. Usem imagens para ajudar o espectador. Em alguns casos, isso evita um grande esforço de abstração pela platéia.
    4. Elaborem, após o título, um slide, contendo os tópicos que serão abordados na apresentação.
    5. Abordem um único conceito ou idéia, por slide, para evitar confusões de assuntos.
    6. Observem se a escolha das cores permite a leitura do texto. A escolha inadequada de cores, bem como do tamanho e do tipo das fontes pode tornar o slide ilegível.
    7. Testem o colorido das lâminas. Alguns ficam perfeitos na tela do computador, mas, na projeção, dificultam a leitura.
    8. Tomem cuidado com os “efeitos especiais” em apresentações eletrônicas (animações, ruídos, etc). Eles devem ser usados somente se contribuírem de fato para o objetivo da apresentação (podem cansar a platéia – o uso da cascata letra por letra, por exemplo);
    9. Sincronizem a exposição das idéias com a apresentação de slides para não provocar incoerências.
    10. Coloquem apenas tópicos ou frases e não conteúdos inteiros, abrindo exceção apenas para a transcrição de conceitos ou afins.
    11. Complementem ou desenvolva oralmente o que aparece nos slides. Se tudo o que for dito estiver no slide, não há necessidade de um palestrante;
    12. Tenham à mão um apontador a laser.
    13. Observem o número de slides por apresentação, evitando o excesso.

    Alguns slides são comuns em quase todas as apresentações de trabalhos científicos. Após o primeiro, contendo o título, o nome do autor, a instituição e o e-mail, elaboram-se alguns que permitam expor, de alguma forma, a justificativa (contextualização do trabalho e sua importância), o objetivo geral, as hipóteses, a metodologia, a apresentação e análise de resultados e as conclusões.

    LEMBRETES

    1. Ensaiem a palestra usando os recursos audiovisuais previstos.
    2. Façam uma pausa quando pedirem ao público para olhar um quadro.
    3. Levem anotações para não esquecerem os exemplos que enriquecerão o assunto abordado.
    4. Assegurem-se de que alguém capacitado esteja no local para socorrê-los, caso o recurso disponível seja de alta complexidade.
    5. Gravem em dois dispositivos uma cópia do material de apoio para a palestra. Se o arquivo apresentar problema ou não abrir, vocês terão outro à mão. Também, levem um roteiro escrito, para o caso de faltar energia ou o recurso audiovisual falhar.
    6. Cheguem antes do horário previsto e testem o recurso.

    MEDO DE FALAR EM PÚBLICO

    Em minha experiência como docente da disciplina Técnicas de Comunicação, na IF Sul-rio-grandense, percebi que muitos alunos demonstravam medo antes e durante suas apresentações orais.

    Após uma breve investigação, constatei que três causas principais contribuíam para esse estado: não estar acostumado a esse tipo de atividade; não dominar o assunto e receio de sofrer uma avaliação pouco favorável por parte dos outros.

    A adoção de duas estratégias serve para resolver a maioria dos casos: treinamento e estudo, para promover a segurança do apresentador. Assim, para minimizar o medo de falar em público, é importante saber o que e como se vai falar, preparar com antecedência, estudar e treinar.

    O PLANEJAMENTO DA APRESENTAÇÃO

    Em primeiro lugar, informem-se sobre as dimensões do local em que farão a apresentação, duração e objetivo da apresentação, recursos disponíveis, número de participantes, faixa etária e lugar de origem da platéia (geográfica e social).

    Em segundo lugar, selecionem e organizem o conteúdo da apresentação. Após, dividam o tempo de apresentação em: cumprimento, introdução (contextualização do assunto, evidenciando sua importância), desenvolvimento (um slide com o roteiro, os próximos evidenciarão os tópicos com as idéias centrais para auxiliar a explanação – levem anotações com exemplos, para enriquecer a palestra), conclusão (poderá ser por acréscimo ou retomada), agradecimento e espaço para perguntas e respostas.

    DICAS

    1. Nunca peçam desculpas por estarem com problemas ou por não terem se preparado devidamente para falar;
    2. Não utilizem clichês;
    3. No primeiro slide, coloquem o título, o nome do autor e e-mail.

    A partir deste momento, mãos à obra e bom trabalho!