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Para descrever a metodologia de uma pesquisa, define-se, primeiramente, o tipo de pesquisa que será implementada. O que vai definir, de fato, o tipo de pesquisa são os objetivos que o pesquisador pretende alcançar.
Alguns tipos são próprios das ciências sociais, embora possam ser utilizados por outras áreas.
Há diversos tipos de pesquisa, classificadas de um ou outro modo, de acordo com suas características ligadas a sua natureza, objetivos, modo de obtenção e tratamento de dados, etc. Cada tipo possui, além de um núcleo comum de procedimentos, suas peculiaridades próprias.
Neste tópico, vamos nos deter em algumas modalidades de pesquisa e suas características, esperando que possam auxiliá-los na condução de suas pesquisas.
A definição do tipo de pesquisa e, conseqüentemente, dos métodos, procedimentos e técnicas a serem adotados depende dos objetivos do investigador. Se a pretensão é pesquisar questões ocorridas no passado, a pesquisa, em princípio, será histórica, utilizando-se os procedimentos vinculados a ela, por exemplo.
Embora conceitualmente haja divisões e subdivisões entre os tipos de pesquisa, as fronteiras entre umas e outras não são muito nítidas. Isso ocorre, muitas vezes, porque, no caminho para atingir seu objetivo, o pesquisador poderá necessitar valer-se de métodos, técnicas e/ou instrumentos de mais de uma delas (DEMO, 2000). Isso significa que as metodologias estão a serviço da pesquisa e não vice-versa.
É importante salientar que a distinção entre teoria e prática é meramente teórica. O próprio pensamento já é uma ação (MORA, 2001). Entretanto, à guisa de sistematização, as pesquisas são distinguidas. De acordo
com a natureza, a pesquisa caracteriza-se como
teórica (pura ou básica) ou
prática (aplicada).
A
pesquisa pura trata-se de uma investigação que é dedicada a construir e “reconstruir teoria, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos" (DEMO, 2000, p. 20).
Em outras palavras, a pesquisa teórica, em princípio, a partir de conhecimentos preexistentes, objetiva produzir mais conhecimento.
Por outro lado, a
pesquisa aplicada, utilizando-se dos resultados das pesquisas teóricas, vincula-se a uma finalidade prática, buscando soluções para problemas concretos (MARCONI, LAKATOS, 2006).
É claro que a pesquisa teórica, a partir de suas conclusões, pode proporcionar uma intervenção posterior, mas esse não é o objetivo da pesquisa em si. Por outro lado, a partir de pesquisas práticas, também podem ser criadas teorias.
São, portanto, tipos de pesquisa que não se excluem, tampouco se opõem.
Uma outra caracterização possível relaciona-se ao modo de
abordagem dos dados, ao tipo de tratamento dado às informações obtidas (refere-se ao olhar do pesquisador sobre os dados). Sob essa perspectiva, as pesquisas podem ser
quantitativas ou
qualitativas.
A
pesquisa quantitativa apresenta, como objeto de estudo, tudo o que é dimensível, o que significa exprimir, em números, julgamentos e informações para classificá-los e analisá-los. Demanda a utilização de recursos e de técnicas estatísticas. (MINAYO, 2007; MARCONI, LAKATOS, 2006).
Entretanto, há pesquisas eminentemente qualitativas que se utilizam de análises quantitativas.
“Atualmente, na área da pesquisa educacional, excluindo análises de dados de avaliações de rendimento escolar realizadas em alguns sistemas educacionais no Brasil, poucos estudos empregam metodologias quantitativas [...]No entanto, há problemas educacionais que, para sua contextualização e compreensão, necessitam ser qualificados através de dados quantitativos. Por exemplo, como compreender a questão do analfabetismo no Brasil, e discutir políticas em relação a esse problema, sem ter dados sobre seu volume e a sua distribuição segundo algumas variáveis, como gênero, idade, condição socioeconômica, região geográfica, cidade-meio rural, etc. Os números aqui se tornam muito importantes e suas relações também. [Há], na área educacional, dois comportamentos típicos: ou se acredita piamente em qualquer dado citado (muitas vezes dependendo de quem cita - argumento de autoridade), ou se rejeita qualquer dado traduzido em número, por razões ideológicas reificadas,
a priori.
No emprego dos métodos quantitativos precisamos considerar dois aspectos, como ponto de partida: primeiro, que os números, freqüências, medidas, têm algumas propriedades que delimitam as operações que se podem fazer com eles, e que deixam claro seu alcance; segundo, que as boas análises dependem de boas perguntas que o pesquisador venha a fazer, ou seja, da qualidade teórica e da perspectiva epistêmica na abordagem do problema, as quais guiam as análises e as interpretações. Sem considerar estas condições como ponto de partida, de um lado, corre-se o risco de usar certos tratamentos estatísticos indevidamente, e, de outro, de não se obter interpretações qualitativamente significativas a partir das análises numéricas. Em si, tabelas, indicadores, testes de significância, etc., nada dizem. O significado dos resultados é dado pelo pesquisador em função de seu estofo teórico. Os métodos de análise de dados que se traduzem por números podem ser muito úteis na compreensão de diversos problemas educacionais” (GATTI, 2004, p. 1).
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Pesquisa qualitativa, por seu turno,
“considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e atribuição de significados são básicos no processo qualitativo. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem” (SILVA, MENEZES, 2001, p. 20).
Esse tipo de abordagem é voltada ao processo de ocorrência dos fenômenos pesquisados, aos quais busca interpretar e atribuir significados, sem, em princípio, a utilização de técnicas e métodos estatísticos. Os dados são obtidos no ambiente natural e o pesquisador é o seu principal instrumento. Geralmente, os pesquisadores se valem da indução durante a análise dos dados (MARCONI, LAKATOS, 2006).
O pesquisador lida com dados simbólicos, situados em um determinado contexto que, concomitantemente, desvelam algo da realidade, ao mesmo tempo em que obscurecem parte dela. Esse autor exemplifica esse tipo de pesquisa, dizendo que basta que um transeunte perceba a aproximação de um caminhão, para tomar a decisão de não atravessar a rua, não havendo necessidade de conhecer peculiaridades ligadas a peso, velocidade ou
locus de partida e de chegada relacionados ao caminhão. O veículo é reconhecido como símbolo de velocidade e força e, para objetivar a travessia da rua, essa informação basta (MAANEM, 1979).
Assim, reconhece-se que há muitas situações em que a possibilidade de quantificação é dispensável.
Por outro lado, em muitas investigações, a combinação de dados provenientes de abordagens quantitativas e qualitativas enriquecem o processo de análise interpretativa (SOUZA, GOMES, 2003).
No quadro dessas quatro primeiras quatro classificações, enquadram-se as diferentes formas de fazer ciência. É possível estabelecer algumas distinções e/ou subdivisões, não estanques e nem conclusivas, que contribuem para o entendimento da questão metodológica. Essas distinções não são rígidas e relacionam-se, basicamente, às variações de objetivos e de procedimentos técnicos.
Numa primeira subdivisão, encontram-se as pesquisas bibliográficas, as experimentais, as descritivas e as explicativas, cujas características permitem perceber uma maior aproximação de umas e outras com os estudos teóricos ou práticos e/ou com as abordagens qualitativas ou quantitativas.
Há outras aproximações como, por exemplo, a da pesquisa bibliográfica com a documental e a histórica. Além disso, os desdobramentos da pesquisa descritiva também mantêm pontos de contato com outras possibilidades de investigação. Ademais, a pesquisa explicativa pode ser vista como um desdobramento da descritiva.
Entre os diversos tipos já classificados, elenco alguns, de modo sucinto, para que vocês possam pesquisá-los em maior profundidade, após identificá-los com os seus propósitos. Nesse rol, inclui-se o Estudo de Caso, considerado um desdobramento da pesquisa descritiva (KÖCHE, 2001).
Sintam-se à vontade para descobrir e percorrer outros caminhos, além destes que arrolo a seguir:
pesquisa bibliográfica,
pesquisa histórica,
pesquisa documental,
pesquisa descritiva,
pesquisa explicativa,
pesquisa-ação,
pesquisa participante,
estudo de caso,
pesquisa etnográfica,
survey,
pesquisa metodológica.
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É elaborada a partir de material já publicado - livros, artigos de periódicos, material disponibilizado na Internet (MINAYO, 2007; MARCONI, LAKATOS, 2006). Busca elucidar um problema, a partir de referências teóricas expressas em documentos.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir que o pesquisador cubra de forma mais ampla seu objeto de pesquisa.
Por outro lado, como lida com dados produzidos por outros, há o risco de eles terem sido coletados ou analisados equivocadamente. Utilizar várias fontes tende a amenizar esse problema.
À medida que o pesquisador lê sobre um assunto, amplia o olhar sobre ele, capacitando-se a criar uma síntese para, a partir do dito, apresentar o não dito, o novo, o que foi percebido nas entrelinhas e nas interrelações entre os textos pesquisados. Essa síntese representará suas conclusões ou considerações sobre o assunto.
A investigação de trabalhos alocados na internet deve ser cuidadosa. Em princípio, tudo o que ela contém pode servir como material de pesquisa. Um pesquisador pode fazer uma pesquisa nos
blogs para verificar aspectos lingüísticos, por exemplo.
Entretanto, se o objetivo for verificar resultados de pesquisa sobre determinado assunto, é necessário ter cautela quanto à escolha de sites e fontes.
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Interessa-se em descrever e comparar usos, costumes, tendências e diferenças, através da documentação que tem relação com ocorrências do passado (ALMEIDA, 1996). É bastante semelhante à pesquisa bibliográfica.
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Esse tipo de pesquisa é muito semelhante à bibliográfica e à histórica.
Talvez a maior distinção refira-se à natureza dos dados com os quais lida, já que inclui fontes não escritas como fotografias, desenhos, pinturas, objetos de arte, escritos em paredes de banheiro, etc.
Conforme Gil (2008), na pesquisa documental, existem os documentos de primeira mão, ou seja, aqueles que não receberam nenhum tratamento analítico tais como os documentos conservados em órgãos públicos e instituições privadas; e os documentos de segunda mão que, de alguma forma, já foram analisados tais como os relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas e outros.
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A pesquisa descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir para modificá-la Esse tipo de pesquisa revela as características de uma população ou fenômeno. Geralmente, baseia-se em amostras grandes e representativas, começando por um levantamento (survey) longitudinal (coleta de informações ao longo do tempo) ou transversal (coleta de informações num tempo determinado). Nesse tipo de pesquisa, o investigador, sem interferir no objeto pesquisado, procura descobrir a freqüência com que um fato ocorre, sua natureza, características, relações com outros fatos, etc. (SILVA, 2003).
Assim, seu trabalho é observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os dados, utilizando-se de técnicas e/ou instrumentos como a entrevista, o formulário, o questionário, o teste e a observação, entre outros (ALMEIDA, 1996, p. 104).
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Esse tipo de pesquisa assemelha-se à descritiva, pois o investigador realiza os mesmos passos em uma e em outra. Mas, após a interpretação dos dados, procura identificar os fatores determinantes, e ocupa-se em saber o "porquê", as causas de determinado fenômeno (GIL, 2008). Ao explicar os fatos, não se restringe, portanto, a descrevê-los.
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A pesquisa-ação pode ser definida como
“um tipo de pesquisa que tem base empírica e é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo e supõe uma forma de ação planejada, de caráter social, educacional, técnico ou outro” (Thiollent, 2000, p. 14)”.
O processo de conhecimento da população engajada na pesquisa e conseqüente ampliação de seu entendimento a respeito de uma situação particular faz parte da ação que levará à mudança em seu benefício (MARCONI, LAKATOS, 2006).
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Guarda semelhança com a pesquisa-ação, pois o pesquisador também participa da situação ou problema de forma cooperativa. Por outro lado, ela não supõe planejamento prévio. Ele é construído junto aos participantes, objetos de pesquisa, que auxiliam na escolha das bases teóricas, dos objetivos, das hipóteses e na elaboração do cronograma de atividades (MARCONI, LAKATOS, 2006).
É um tipo de investigação por meio do qual se busca plena participação da comunidade na análise de sua própria realidade, com objetivo de promover a participação social para o benefício dos participantes da investigação. Esses participantes são os oprimidos, os marginalizados os explorados. Trata-se, portanto, de uma atividade educativa de investigação e ação social. Esse tipo de pesquisa privilegia a ciência popular, própria do conhecimento resultante do senso comum, pois percebe a ciência dominante como um mecanismo de manutenção do sistema vigente (BRANDÃO, 1985). Utiliza, como técnica, a observação participante.
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Caracteriza-se por descrever um evento ou caso de uma forma longitudinal (ao loongo do tempo) e, geralmente, consiste em estudar profundamente uma unidade individual, tal como: uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição, um evento cultural, etc. Esse tipo de estudo não segue uma linha rígida de investigação pode ser descritivo, exploratório ou explanatório. O descritivo descreve o fenômeno dentro de seu contexto. O exploratório lida com problemas pouco conhecidos, objetivando definir hipóteses ou proposições para futuras pesquisas. O explanatório objetiva explicar relações de causa e efeito, a partir de uma teoria (YIN, 2005).
Segundo esse autor, apesar das diferenças, eles mantêm pontos de contato.
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Objetiva a descoberta de novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento de uma realidade. O pesquisador é um observador participante que conta com embasamento teórico e coloca a ênfase no processo em tempo real, tentando apreender a visão pessoal dos participantes, sem a pretensão de fazer modificações, de mudar o ambiente. O contato pode durar semanas, meses ou anos. Durante a pesquisa o planejamento e refeito em relação aos focos de investigação, bem como às técnicas e instrumentos de coleta e os fundamentos teóricos são repensados (ANDRÉ, 1995).
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Pode ser descrita como a obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo, mediante um instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. Como características têm o interesse em produzir descrições quantitativas de uma população e faz uso de um instrumento predefinido. É apropriada quando queremos responder a questões como
O quê?, Por quê?, Como? Quanto? (FREITAS et al. 2000).
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Está interessada em questionar métodos e processos aceitos como científicos. Une, dependendo do tipo de método a ser questionado, a bibliográfica, a histórica, a documental, a descritiva, a explicativa e a experimental (DEMO, 2000).
Entrem no Fórum “
Tipo de pesquisa” e esclareçam qual será o tipo de suas pesquisas.