Outras questões de fundo
Outros conceitos, ligados às características cerebrais, também são importantes para o processo de ensino-aprendizagem. Entre eles, encontra-se a necessidade de articular saberes, considerando-se que o “ser humano aprende melhor quando ativa seus neurônios de forma complexa e multifacetada”.
A interdisciplinaridade
É importante trabalhar de forma interdisciplinar, ou seja, relacionar os conteúdos de diversas áreas, quando isso for necessário, para a compreensão de um conceito.
Não raro, entretanto, os professores sentem-se ameaçados quando surgem propostas nesse sentido. Uma das razões para isso relaciona-se à falsa idéia de que, para trabalhar em parceria, é necessário dominar também os conteúdos das disciplinas com as quais se deseja promover a interação.
Embora muito provavelmente os professores envolvidos saiam enriquecidos, após a realização de um trabalho integrador, essa não é uma condição para a implementação de trabalhos desse tipo. O importante é que o professor, ao trabalhar com sua disciplina, adote uma “postura de abertura”.
Essa é uma expressão recorrente nas obras de Ivani Fazenda, maior fautora da interdisciplinaridade no Brasil. O entendimento de seu significado é possível a partir da seguinte história. Um dia, ouvi o relato de uma professora de biologia, acerca de uma discussão que havia tido com um de seus alunos a quem ela havia perguntado sobre a constituição do sistema digestório.
Essa professora mostrava-se espantada, porque o aluno inseriu o sangue como parte do sistema que ela estava abordando. Ela disse a ele que o sangue não fazia parte do sistema digestório, mas do circulatório. Como o aluno insistia em incluir o sangue como parte constituinte do sistema em questão, ela, para pôr fim à discussão, mandou que o aluno fosse olhar nos livros de biologia, pois, em qualquer um deles, encontraria a distinção entre os sistemas digestório e circulatório.
Diante disso, interrompi a professora, perguntando se ela acreditava que o sistema digestório era capaz de funcionar sem o sangue ou, ainda, se supunha que esse sistema poderia exercer sua função sem a participação de outros sistemas e órgãos. Ela, obviamente, respondeu-me que sabia que não era possível.
No final da história, ficou claro que, embora a professora entendesse a complexidade envolvida no processo de digestão, adotou, sem refletir, uma postura disciplinada e disciplinar da realidade. Não aproveitou, portanto, aquele momento rico e espontâneo, para fazer questionamentos que culminassem na percepção, pelos alunos, de que a realidade é complexa, recheada de interligações e que, por isso mesmo, o que ocorre nos livros são recortes e sistematizações para tornar possível o entendimento.
Em outras palavras, a professora em questão, não adotou uma “postura de abertura”, mas de “fechamento”, de condicionamento ao
status quo. Esse fato evidencia que não são somente as diferentes disciplinas que são consideradas estanques, não comunicantes, mas os conteúdos pertencentes a uma mesma disciplina também são tratados dessa maneira. O professor, ao trabalhar, reconhecendo as ligações inter e intradisciplinas favorece a aprendizagem, pois leva em conta uma capacidade cerebral inerente ao ser humano: perceber o todo em suas inter-relações.
A atitude de abertura adotada pelo professor possibilita que o aluno estabeleça “links” entre os diferentes campos do saber.